top of page

HISTÓRIA DO KARATE

O karatê é uma arte marcial japonesa que surgiu na ilha Okinawa. A história do karatê começa quando o monge indiano Bodhidharma caminha da Índia para China querendo fundar um mosteiro budista. Além dos conceitos de contemplação do budismo, Bodhidharma levou uma técnica de luta sem armas, com objetivo de manutenção da saúde e autodefesa, dando início as artes marciais.
Okinawa pertencia a China durante a dinastia Ming e o intercâmbio cultural foi inevitável. Após o final da dinastia Ming, Okinawa passa a ser dominada pelo Japão. Querendo evitar uma rebelião, os japoneses proíbem o uso de armas de fogo em Okinawa. A população começou a utilizar pés e mãos como forma de defesa, os mestres selecionavam os alunos e seus treinos eram secretos. A repressão da elite japonesa era tão grande que foi comparada com a perseguição a capoeira no Brasil Imperial.

O karate que inicialmente era conhecido como "TE", o TE era uma arte marcial nativa de Okinawa. Seu nome significava simplesmente "mão", por ser uma forma de luta praticada sem armas. O desenvolvimento do TE na forma de arte marcial é incerto e foi obscurecido pelo tempo, visto que o mesmo surgiu de forma secreta entre os camponeses de Ryukyu, que eram proibidos de portar armas a fim de se evitar revoltas. Dessa forma, o TE era ensinado em reuniões secretas e sua própria organização se assemelhava à das sociedades secretas, com iniciações e graus de hierarquia interna.

Apesar de geograficamente pequena, a ilha de Okinawa era muito segmentada em termos culturais, de forma que três divisões culturais se propagaram em torno das três cidades mais importantes: Shuri (a capital), Naha (a cidade de comércio mais dinâmico) e Tomari (o principal porto). Em cada uma dessas cidades e seus respectivos arredores, desenvolveu-se um tipo particular do TE

Por volta de 1750, um monge budista chinês do Monastério Shaolin chamado Kusanku foi enviado a Okinawa como uma espécie de embaixador. Naquela época, Ryukyu era um reino independente do Japão, mas cultural e comercialmente dependente da China Imperial.

Como a maioria dos monges Shaolin, Kusanku era praticante de Kung fu (na época chamado Chuan fa). Como Shuri era a capital, foi para lá que ele foi enviado. Lá, entrou em contato com Peichin Takahara, já com uma idade bastante avançada. Ambos trocaram conhecimentos sobre artes marciais, mas não desenvolveram nenhuma relação Professor-Aluno.Quando Kusanku chegou a Okinawa, Tode Sakukawa tinha cerca de 18 anos e se destacava como aluno de Pechin Takahara. O velho Mestre percebeu que a chegada do estrangeiro seria uma boa oportunidade para obter um aperfeiçoamento de sua arte marcial, mas como já estava com quase 70 anos, não se sentia apto a aprender novas técnicas. Enviou, então, seu pupilo para ser treinado pelo monge chinês. Nesta altura Tode Sakukawa, já era um grande praticante de TE, e se tornou, então, discípulo de Kusanku, com quem, inclusive,  chegou a visitar a China e o próprio Monastério Shaolin. Quando Kusanku faleceu, em 1762, Tode Sakukawa já dominava amplamente tanto o TE de Okinawa, quanto o Kung Fu da China. Passou, então a ser o Grão-Mestre do TE em Shuri, assumindo o lugar de Pechin Takahara, falecido dois anos antes.

Em homenagem a Kusanku e também como forma de compilar seus ensinamentos de forma a passá-los para seus alunos, Sakukawa criou os dois katas que levam o nome do monge Shaolin: Kusanku Sho (Kusanku menor) e Kusanku Dai (Kusanku maior). Contudo, talvez por azar, ou talvez por ter passado muitos anos na China, ou ainda, talvez por seu Mestre ter vivido tanto, Sakukawa não conseguiu ter um aluno brilhante e seus ensinamentos corriam o risco de não serem levados adiante após sua morte.

Por volta de 1812, contra a sua vontade, o idoso Sakukawa viu-se obrigado a honrar uma promessa que havia feito a um nobre de Ryukyu e, assim, aceitou o filho daquele homem - um adolescente conhecido como encrenqueiro , como discípulo. O jovem se chamava Sokon Matsumura.

Mesmo já não sendo uma criança, Matsumura se destacou rapidamente nos estudos com o Mestre Sakukawa e, quando ele faleceu, em 1815, já estava apto a dar prosseguimento a seus ensinamentos.

O treinamento de Matsumura naquela arte que vinha se configurando a partir da mistura do Kung Fu com o Te não só lançou as bases do Karate Shorin-Ryu tradicional, mas também fez com que a prática de artes marciais, que até então era restrita apenas aos camponeses, chegou à nobreza, da qual o próprio Sokon Matsumura pertencia.

De fato, Matsumura utilizou seus novos conhecimentos para galgar postos na administração do reino e logo se tornou o General Supremo das Forças Armadas de Ryukyu. Sua vida é, contudo, coberta por mitos que o fazem uma espécie de Miyamoto Musashi de Okinawa. Diz-se que nunca perdeu uma luta, desde o início de seu treinamento até sua velhice, sendo seu embate mais famoso (e o único que não venceu, mas empatou) contra um marinheiro náufrago oriundo provavelmente da China, cujo nome era Annan.

Annan fora o único sobrevivente do navio em que estava, na costa de Okinawa, e conseguiu chegar à ilha nadando. Como não sabia falar o idioma local e como era exímio lutador, estava se aproveitando de sua habilidade para roubar comida e outras coisas das vilas próximas a Shuri. Matsumura foi, então, chamado para lidar com o problema, mas o estrangeiro se mostrou um oponente muito superior a todos os outros que já havia enfrentado ou que ainda viria a enfrentar. Num determinado momento da luta, ambos se viram impossibilitados de vencer e resolveram parar o embate, chegando a um acordo. Matsumura deixou que Annan partisse sem ter que responder pelos crimes que havia cometido e, em troca, Annan ensinou-lhe algumas de suas técnicas, que Matsumura viria a compilar num Kata chamado Chinto (Marinheiro do Leste).

Além de seus feitos militares quase-heroicos, Matsumura também deu uma grande contribuição pessoal ao nascente Karate, tendo criado diversos KatasNaihanchi (depois dividido em três partes), Passai (depois dividido em duas versões), Gojushiho, Chinto e Hakutsuru (este não praticado pela Shorin-ryu).

Além das grandes contribuições que deu ao caratê, pelo fato de ser um nobre, Matsumura nunca abriu mão do uso de armas (Kobujutsu) e chegou mesmo a introduzir o Jigen-ryu (Estilo de luta com espadas) de Satsuma (Japão) em Okinawa.

O tempo de vida, bem como muitos dos feitos deste homem, considerado por muitos como o verdadeiro fundador do Karate Shorin-Ryu, não é precisamente conhecido, mas seu aluno mais brilhante e sucessor também no posto de General Supremo de Ryukyu, foi Anko Itosu, outro membro da nobreza do reino.

Itosu trabalhou incansavelmente para fazer o Karate ser introduzido no Japão. Acreditava que, caso fosse bem sucedido, poderia vir a gozar de uma posição influente junto às Forças Armadas do Imperador Meiji. Contudo, devido à grande influência chinesa sobre o Karate da época (até mesmo muitos dos golpes possuíam nomes em chinês), a arte marcial não encontrou receptividade num Império sinófobo (anti-China) como o japonês. Itosu fracassou. Quanto ao Karate, não se pode precisar se o criador da arte marcial foi Matsumura, Sakukawa ou Itosu. Os que defendem a tese de que Sakukawa foi seu criador consideram que ele foi o primeiro a reunir os ensinamentos do Te e do Kung Fu numa só arte. Os que defendem que Matsumura tenha sido seu criador argumentam que ele foi quem mais contribuições deu àquela arte nascente e que Sakukawa teria sido um mero praticante de duas artes marciais (como hoje existem tantos). Por fim, aqueles que argumentam que Itosu teria sido o criador do Karatê se apegam ao termo em si, que, ao que parece, não havia sido utilizado antes de Anku Itosu. Contudo, aos defensores dessa tese, cabe lembrar que o termo só se popularizou após a morte de Itosu, sendo que em sua época (como pode ser conferido na carta que escreveu e que hoje é conhecida como "Os Dez Preceitos do Karatê"), o Karate ainda era majoritariamente conhecido como Tang Te, ou seja, Mão Chinesa e não Mão Vazia, como hoje.

Kanji que representa a palavra Karate o qual traduz-se Mãos vazias.

Estilo Shorin Ryu

Estilo Shorin Ryu

Treinamento de Karate no Castelo de Shuri, 1938.

(小林流 ou 松林流 ou 少林流?) é o estilo mais antigo dentre os estilos de Karatê, originário da Ilha de Okinawa. Shorin é a pronúncia japonesa da palavra chinesa Shaolin, que quer dizer "Pequeno Bosque", sendo assim, como Ryu significa estilo, Shorin-ryu seria o "Estilo do Pequeno Bosque".

As raízes do estilo Shorin-ryu se confundem com as raízes do próprio karate e remontam ao fim do século XVIII, na ilha de Okinawa. Que à aquela época, a ilha era a sede do hoje extinto Reino de Ryukyu, que englobava todas as ilhas do Arquipélago de Ryukyu, hoje pertencentes ao Japão. De fato, um preciso estudo das origens do Karate não pode ser feito de forma dissociada do estudo da cultura de Ryukyu. Nesta seção, a periodização histórica utilizada será baseada na vida dos mais importantes Mestres do estilo Shorin-ryu.

Shorin-ryu, por ser o primeiro estilo criado, foi o estilo central para a criação de diferentes estilos como o Shotokan. Graças a ele, temos o karate de hoje em dia.

O estilo Shorin-ryu, a discussão parece mais simples. Embora pareça um contra-senso, visto que o Shorin-ryu é um estilo de uma arte marcial (o Karatê), ao que parece, sempre houve a consciência de que aquela arte havia sido trazida da China e derivada do Kung Fu dos monges Shaolin, sendo assim, é muito provável que o Estilo praticado por Anko Itosu já fosse chamado de Shorin-ryu mesmo em tempos anteriores a esse Mestre (como também se pode supor através da leitura de "Os Dez Preceitos do Karatê"). De qualquer forma, como sempre ocorre com fatos históricos embasados na História Oral (uma vez que a escrita era muito pouco disseminada em Ryukyu), há discordâncias sobre esse tema e, embora alguns debatam sobre se Matsumura ou Itosu seria o fundador do Estilo, o único consenso que existe é que Chibana foi seu primeiro Grão-Mestre.

Árvore Genealógica

ARVORE GENEALÓGICA

DO KARATE SHORIN RYU E SHORIN RYU SHINSHUKAN

Grandes mestres da história do Karate

(1683 - 1760)

 (1733 - 1815)

SOKON MATSUMURA

(c. 1800 - c.1890)

ANKO ITOSU

(1831 - 1915)

ANBUM TOKUDA

(1886 - 1945)

(de HaebaruShuri15 de março de 1927 — Santos13 de janeiro de 2008)

MASSAHIRO SHINZATO
CHOCHIN CHIBANA

(1885 - 1969)

KATSUYA MIAHIRA

(1918 - 2010)

MORINOBU MAESHIRO
Conceito "Do"

O conceito "Do"

O nome completo do Karate é Karate-Do, ou seja, Caminho da Mão Vazia. Sendo Kara o correspondente a vazio, Te a mão e Do a caminho. O conceito contido na partícula Do permeia as artes marciais orientais e tem significados muito variados de região para região. Em geral, no entanto, ele pode ser definido como uma forma de encarar as artes marciais como uma filosofia de vida, algo com uma forte conotação religiosa. A ideologia do conceito "Do" é atribuída ao Mestre Peichin Takahara.

O Karate no Brasil

O KARATE DO NO BRASIL

Devido às grandes dificuldades decorrentes do período pós-guerra, Shinzato resolveu aceitar o convite de um tio que havia emigrado para o Brasil e tomou um navio, desembarcando em Santos em 15 de janeiro de 1954.Fixou residência no município de Praia Grande. O Karate Shorin-ryu chegou ao Brasil  junto com Yoshihide Shinzato (o qual foi iniciado no estilo como aluno de Anbun Tokuda; após a 2ª Guerra Mundial, foi aluno de Choshin Chibana e, após a morte deste, continuou com Katsuya Miyahira; também treinou com Shikan Akamine, do estilo Goju-ryu). Sua disseminação por aqui se deu no contexto do racha de escolas ocorrido no final da vida de Chibana e, sendo assim, até os dias de hoje ainda existe certa disputa entre os membros das diferentes escolas deste estilo no Brasil. Assim que chegou, imbuído do espírito de aventura, Shinzato passou a trabalhar na lavoura onde plantava principalmente agrião, tornando-se, em seguida, feirante em Santos. Neste período, Shinzato começou a praticar o karate nos fundos de sua casa, onde ensinava ao filho mais velho e aos filhos de alguns membros da colônia okinawana local.

Em 1962 Shinzato fundou a sua primeira academia em Santos, a Associação Okinawa Shorin-ryu Karate-Do do Brasil, que viria mais tarde a se tornar uma forte associação. 5 anos depois, fundou uma organização nacional, a União Shorin-ryu Karate-Do do Brasil, com centenas de academias e clubes filiados.

Grandes Mestres

Aqui vamos contar a história dos grandes mestres criadores desta arte marcial hoje conhecida como karate, outros responsáveis em dar continuidade, consolidação e propagação da arte marcial.

 

 

Iniciamos então nossa jornada através do tempo com o precursor da arte, o Grande Mestre 

 

Peichin Takahara (1683 - 1760)

(em japonês: 高原 親雲上, Takahara Peichin foi um mestre de Okinawa-te, nascido na família Kogusuku de Kumemura, em Shuri, e muito importante no desenvolvimento que viria a culminar no caratê. Viveu de 1683 a 1760, sendo da casta militar de Oquinauana.

 Nascido na vila de Akata Cho - Ryukyu, Takahara viveu a maior parte da vida na cidade de Shuri, capital do Reino de Ryukyu, e foi o maior mestre de te (mão) à sua época. O te era uma arte marcial nativa de Okinawa. Seu nome significava simplesmente "mão", por ser uma forma de luta praticada sem armas.

O desenvolvimento do te enquanto arte marcial se perde nas brumas do tempo, visto que o mesmo surgiu de forma secreta entre os camponeses de Ryukyu, que eram proibidos de portar armas a fim de se evitar revoltas. Dessa forma, o te era ensinado em reuniões secretas e sua própria organização se assemelhava à das sociedades secretas, com iniciações e graus de hierarquia interna.

Apesar de geograficamente pequena, a ilha de Okinawa era muito segmentada em termos culturais, de forma que três microcosmos culturais acabaram por se desenvolver em torno das três cidades mais importantes: Shuri (a capital), Naha (a cidade de comércio mais dinâmico) e Tomari (o principal porto). Em cada uma dessas cidades e seus respectivos arredores, desenvolveu-se um tipo particular do te; sendo o que importa ao verbete em questão aquele desenvolvido em Shuri: o Shuri-te.

Por volta de 1750, um monge budista chinês do Monastério Shaolin chamado Kusanku[3] foi enviado a Okinawa como uma espécie de embaixador. Àquela época, Ryukyu era um reino independente, mas cultural e comercialmente dependente da China Imperial.

Como a maioria dos monges Shaolin, Kusanku era praticante de Kung fu (na época chamado Chuan fa). Como Shuri era a capital, foi para lá que ele foi enviado. Lá, entrou em contato com Takahara, já com uma idade bastante avançada. Ambos trocaram conhecimentos sobre artes marciais, mas não desenvolveram nenhuma relação Professor-Aluno.

O monge Takahara introduziu no te os primeiros conceitos de Dô (道 dō?), que seriam na formação do caratê moderno mais realçados, no processo pelo qual passaram as artes marciais japonesas durante a transição do século XIX para o século XX.

Como aluno, teve a Kanga Sakukawa, para quem repassou todos os seus conhecimentos e, quando viu que não poderia contribuir com seu aperfeiçoamento, encaminhou-o para treinar com o mestre de chuan fa Kushanku.

Kanga Sakukawa (1733 - 1815) 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Quando Kusanku chegou a Okinawa, Sakukawa[4] contava cerca de 18 anos e era o mais prodigioso aluno de Takahara. O velho Mestre percebeu que a chegada do estrangeiro seria uma boa oportunidade para obter um aperfeiçoamento de sua arte marcial, mas como já estava com quase 70 anos, não se sentia apto a aprender novas técnicas. Enviou, então, seu pupilo para ser treinado pelo monge chinês.

 

Sakukawa, já à época um grande praticante de Te, se tornou, então, discípulo de Kusanku, com quem se diz, inclusive, que chegou a visitar a China e o próprio Monastério Shaolin. Quando Kusanku faleceu, em 1762, Sakukawa já dominava amplamente tanto o Te de Okinawa, quanto o Kung Fu da China. Passou, então a ser o Grão-Mestre do Te de Shuri, assumindo o lugar de Takahara, falecido dois anos antes.

Em homenagem a Kusanku e também como forma de compilar seus ensinamentos de forma a passá-los para seus alunos, Sakukawa criou os dois katas que levam o nome do monge Shaolin: Kusanku Sho (Kusanku menor) e Kusanku Dai (Kusanku maior). Contudo, talvez por azar, ou talvez por ter passado muitos anos na China, ou ainda, talvez por seu Mestre ter vivido tanto, Sakukawa não conseguiu ter um aluno brilhante e seus ensinamentos corriam o risco de não serem levados adiante após sua morte.

Por volta de 1812, contra a sua vontade, o idoso Sakukawa viu-se obrigado a honrar uma promessa que havia feito a um nobre de Ryukyu e, assim, aceitou o filho daquele homem - um adolescente conhecido como encrenqueiro , como discípulo. O jovem se chamava Sokon Matsumura.

Com o falecimento de Takahara, apenas dois dias depois de Sakugawa o encontrar, este último "assume" sua posição de grande mestre local, mais uma vez atendendo a um pedido de seu mestre.

Sakukawa falece em 17 de agosto de 1815, com 82 anos de idade.

Mestre Sakukawa, no fito de organizar sua arte marcial, cria dois katas com as técnicas ensinadas por Kushanku. E, porque fazia parte do séquito real, tinha grande apreço por normas de moral e conduta, criou o Dojo kun, um código ético para ser seguido pelos artistas marcial. Alguns de seus discípulos, como Okuda, Makabe e Matsumoto, tornaram-se grandes mestres de tode, pero seu mais renomado foi Sokon Matsumura, o qual foi aceito apenas depois de muito relutar.[5]

As contribuições não param apenas no karate. Também exímio praticante da arte marcial com armas, o kobudo, o mestre criou um kata de bastão — bo —: Sakukawa no kon.

Peichin Takahara
Kanga Sakugawa

Ainda visando promover o Karate, no início do século 20, Anko Itosu escreveu uma carta dirigida ao ministro da Educação e ao ministro da Guerra do Japão falando sobre os benefícios da arte marcial de Okinawa. Mais do que uma carta com intenções políticas, o documento Tode Jukun (dez preceitos do Karate) versa sobre pontos importantes do que a arte pode proporcionar. O texto de Anko Itosu é uma leitura obrigatória para qualquer praticante de Karate-Do, que deve estudar e refletir sobre as palavras do mestre. Por isso, reproduzimos abaixo uma tradução do texto, na íntegra:

 

Dez Preceitos do Karate

O Karate não se desenvolveu a partir do Budismo ou do Confucionismo. No passado, as escolas Shorin-Ryu e Shorei-Ryu foram trazidas da China para Okinawa. Ambas as escolas têm pontos fortes, que agora mencionarei abaixo antes que ocorram muitas mudanças:

 

Karate não é meramente praticado para o seu próprio benefício; ele pode ser usado para proteger a família de um indivíduo ou seu mestre. Não é o propósito usá-lo contra um único adversário, mas no lugar como uma forma de evitar ferimentos usando as mãos e os pés caso o indivíduo seja confrontado por um bandido ou encrenqueiro.

O propósito do Karate é fazer os músculos e ossos sólidos como uma rocha e usar as mão e pernas como lanças. Se crianças começarem a treinar Karate enquanto estiveram no ensino fundamental, então elas serão adequadas para o serviço militar. Lembrem-se das palavras atribuídas ao Duque de Wellington após ele derrotar Napoleão: “a batalha hoje foi vencida nos campos de jogos das nossas escolas.”

Karate não pode ser aprendido rapidamente. Como um touro que se move lentamente por mil léguas, se uma pessoa treinar diligentemente por uma ou duas horas todos os dias, então em três ou quatro anos ela verá uma mudança em seu físico. Aqueles que treinam dessa maneira descobrirão os princípios mais profundos do Karate.

No Karate, o treino das mãos e dos pés é importante, então o indivíduo precisa ser completamente treinado por meio do Makiwara. Para fazer isso, relaxe os ombros, abra os pulmões, reúna sua força, agarre o chão com os seus pés e concentre sua energia no baixo-abdômen. Pratique usando cada braço cem ou duzentas vezes todos os dias.

Quando praticar as posturas do Karate, certifique-se de manter suas costas retas, relaxar os ombros, colocar força nas suas pernas, manter-se firme e concentrar sua energia no baixo-abdômen.

Pratique cada técnica do Karate repetidamente. Aprenda bem as explicações de cada técnica e decida quando e como aplicá-las conforme necessário. Entrar, contra-atacar e afastar-se é a regra para o torite.

Você deve decidir se o Karate é para a sua saúde ou para auxiliar nos seus deveres.

Quando você treinar, faça isso como se estivesse no campo de batalha. Seus olhos devem estar fixos, seus ombros baixos e o corpo enrijecido. Você deve sempre treinar com intensidade e espírito, como se estivesse realmente encarando um inimigo. Dessa forma, você estará naturalmente preparado.

Se você usar excessivamente suas forças no treino do Karate, isso vai causar perda de energia no seu baixo-abdômen e será nocivo para o corpo. Os olhos e rosto ficarão vermelhos. Tenha cuidado para controlar  o seu treino.

No passado, os mestres de Karate aproveitaram longas vidas. Karate auxilia no desenvolvimento dos ossos e músculos. Ajuda na digestão e também na circulação. Se o Karate for introduzido desde o ensino fundamental, então nós produziremos muitos homens com capacidade de derrotar dez agressores cada um.

Se os estudantes no colégio de treinamento de professores aprenderem Karate de acordo com os preceitos acima e então, após a graduação, disseminarem isso para escolas fundamentais em todas as regiões, dentro de 10 anos o Karate se espalhará por toda Okinawa e pelo Japão continental. O Karate, portanto, fará uma grande contribuição para nossos militares. Espero que vocês considerem minha sugestão com seriedade.

 

Anko Itosu, outubro de 1908.

bottom of page